Reconhecimento de Deus
2025-10-10
Ando aprendendo muito na crisma, e queria registrar algo que me abalou profundamente, mesmo que seja difícil de explicar.
Há algum tempo li uma matéria no Globo Ciência — daqueles anos 90, quando ainda não se tinha medo de mostrar a realidade nua. Ela dizia algo como: “Somos feitos de nada, há um vazio”. Na época, parecia filosófico demais. Hoje, com a física moderna e os aceleradores de partículas, vejo que tinha razão: o átomo é quase totalmente vazio, e o que sentimos como sólido é apenas força e energia.
Depois, descobri algo sobre diamantes — materiais que consideramos os mais duros — e, ao olhar suas estruturas em escala nanométrica, algumas regiões se comportam como líquidos. Isso me derrubou: os cinco sentidos falham, e a realidade que eu conhecia se mostra parcial. A ciência dizia que eu estava “tocando o impossível” sem nem perceber.
A epifania veio quando percebi que nada está parado. O campo hamiltoniano da física mostra que tudo se move, tudo vibra, mesmo quando parece em repouso. E a química, que eu estudava na escola, já me dava pistas disso. Mas o golpe final foi o tempo. Não se pode “desquebrar” um copo: há uma assimetria natural, a entropia de Boltzmann, que define a direção inevitável da mudança.
Foi aí que caiu a ficha: se eu pudesse deter o tempo, controlar a entropia, eu teria o que se chama de poder divino. Mas não se trata de dominar tudo; Deus, percebi, está em tudo — na física, na química, na matemática, na lógica.
E então a teoria do caos me fez ver Deus de um jeito que nunca imaginei. O caos é imprevisível, mas dentro dele há padrões, atratores, fractais. A desordem não é ausência de ordem, é ordem complexa. Foi nesse ponto que tudo fez sentido: a realidade é dinâmica, imprevisível, mas regida por leis sutis que atravessam todas as ciências.
Hoje, ao olhar para a física, para a química, para a matemática, vejo um elo. Vejo um princípio ordenando a transformação constante, um movimento que nunca cessa, um “logos” que se revela na própria estrutura do mundo. Não é misticismo vazio: é a própria ciência mostrando que a criação é constante, que o tempo flui, que o caos tem beleza e coerência.
E assim, na teoria do caos, na entropia, no vazio, eu encontrei Deus — não como alguém sentado no trono, mas como o movimento e a ordem que permeiam tudo.